Conteúdos da Faculdade de Pedagogia e breves considerações

domingo, 28 de março de 2010

Para o Enem-2000


Aluno(a)s, pedi a vocês um esquema (relação entre signos) relacionado ao Exame Nacional do Ensino Médio de 2000, que apresenta quatro textos, sendo um deles uma charge de Angeli, do jornal A Folha de São Paulo.

Na charge, relacionam-se Mãe-Papai Noel-Coelhinho da Páscoa. Os três nomes representam fantasia. Pois bem, além de registrar o esquema, vocês deveriam pesquisar o signo fantasia para interpretá-lo, por exemplo, na festa natalina.

Retiremos do livro O imaginário vigiado, de Dênis de Moraes.

I) Imaginário Social

1. Trata-se de uma produção coletiva, já que é o depositário da memória da família e os grupos recolhem de seus contatos com o cotidiano. (Pg. 38)

2. Bronislaw Baczko assinala que é por meio do imaginário que se podem atingir as aspirações, os medos e as esperanças de um povo. (Pg. 38)

3. A imaginação é um dos modos pelos quais a consciência apreende a vida e a elabora. A consciência obriga o homem a sair de si mesmo, a garimpar satisfações que ainda não encontrou. (Pg. 39)

4. Devemos distinguir, como Bloch, a imaginação da fantasia: a primeira tende a criar um imaginário alternativo a uma conjuntura insatisfatória; a segunda nos aliena num conjunto de ‘imagens exóticas’ nas quais procuramos compensar uma insatisfação vaga e difusa.
(Pg. 40)

quinta-feira, 18 de março de 2010

do dia 16 ao 18


As bases do pensamento gramatical

Em Pedagogia, optei pela origem da gramática. Para tanto, levei à sala de aula o livro "Crátilo", de Platão, e "A vertente grega da gramática tradicional", de Maria Helena. Por meio dessa aula, perceber que a gramática organizou a escola e que essa organização encontra-se em crise por causa de novos parâmetros.

1.Quem é Gramática? ("A aventura semiológica", de Roland Barthes)

1.a. Filologia, a virgem sábia, é prometida a Mercúrio; recebe como presente de núpcias as sete artes liberais, sendo cada uma apresentada com os seus símbolos, sua roupagem, sua linguagem. Grammatica, uma das artes liberais, é uma senhora de idade que viveu na Ática e usa trajes romanos; num cofrinho de marfim, guarda uma faca e uma lima para corrigir os erros das crianças.

2. A palavra e os gregos ("A vertente grega da gramática tradicional", de Maria Helena de Moura Neves)

2.a. Desde Homero, autor de Ilíada, aparecia em seus heróis a retórica; mas, à medida que se formava a polis grega, ao lado da linguagem poética, criava-se a linguagem dos oradores ou a linguagem retórica. Essa linguagem disciplina-se em uma téchne, formal e normativa.

2.b. Há nesse período duas linguagens: a poética e a retórica. O discurso filosófico surge entre nessa época. Do problema da relação entre as coisas e seu princípio, entre as coisas e que as governa, entre as coisas e sua natureza, especifica-se o discurso filosófico.

2.c. Tales (624 ou 625-556 ou 558 a. C.): o princípio de todas as coisas é a água. A água é o começo (arché) das coisas. Anaximandro (610-547 a.C.) exige a noção de phýsis. O princípio das coisas apeíron, uma natureza diferente, ilimitada. Heráclito (aprox. 540-470 a.C.) põe em relevo o lógos como articulação das coisas (tà ónta). O lógos pode ser valor ontológico (Razão, inteligência universal, norma universal do Espírito), cosmológico (lei cósmica, fórmula do devir), lógico (lei do pensamento, lei lógica) ou linguístico (discurso, palavra).

2.d. O lógos é discurso que revela a phýsis.

2.e. Ao invés de designar um elemento, Parmênides (530-460 a.C) designa o ser. O ser é dito uno, eterno, imóvel, compacto, pleno, contínuo. Ser e pensar são o mesmo. Ser e pensar é unidade. O que era princípio para os outros, para Parmênides é simplesmente o ser. Não há mais um princípio único na explicação do mundo.

2.f. Empédocles (490-435 a. C.) e Anaxágoras (500-428 a.C), afetados por Parmênides, colocam o ser dito de diferente maneira pelos homens. Ser e linguagem se separam. Lógos e a coisa se separam.

3. Os sofistas

3.a. Há diferença entre os sofistas, mas existe o comum, que discurso e verdade se identificam, subordinando-se esta àquele.

3.b. Górgias (483-375): As coisas, exteriores a nós, são objeto dos diversos sentidos e, assim, o discurso não pode exprimi-las. O discurso não é as coisas reais e existentes. A linguagem é um instrumento pelo qual se exerce a sugestão e a persuasão. A linguagem conduz a si mesma.

3.c. Se devem persuadir, as palavras devem ser bem compostas, bem soantes e bem aplicadas. Nesse sentido, desenvolvem-se as pesquisas de Protágoras e de Hípias. Pródico também é sofista preocupado também com a justeza dos nomes.

3.c. Protágoras é quem nos oferece amostras de observações de algum valor gramatical. Ele fala de formas diferentes de frases. Ele deixa um legado, a distinção do gênero dos nomes são dados que ficam para uma futura sistematização gramatical embora a atenção dos sofistas à linguagem fosse retórica.

3.d. Os sofistas não dão atenção à análise das frases, à consideração dos seus membros ou da relação entre eles.

4. A palavra segundo Platão

4.a. Para Platão, a linguagem conduz a alguma coisa que não ela mesma. A palavra deixa de ser entendida como instrumento de persuasão para ser vista na sua função de palavra de verdade, que é uma condição da dialética.

4.b. Posta a verdade na relação entre linguagem e as coisas, fica implicada uma dissociação que permitirá colocar a linguagem como objeto de investigação. É ele quem apresenta pela primeira vez a linguagem como objeto de estudo. Lógos e ónoma se separam.

4.c. Na obra "Crátilo", o nome é um instrumento para informar a respeito das coisas e para separá-las.

4.d. Existe nas coisas uma essência permanente, que não depende de nós ou de nosso modo de vê-las. Há, pois, um eîdos, uma ideia das coisas. As ações se realizam segundo sua própria natureza, não conforme nossa opinião. Existe um eîdos do nome, uma ideia do nome, ou seja, o nome é uma imagem de eîdos.

4.e. A justeza de nome depende sempre de uma techne. Techne é fazer conforme a natureza, é o fazer de acordo com o eîdos. O nome é um instrumento, o órganon dessa arte, e, semelhante aos instrumentos das outras artes, como as artes de cortar, de tecer e de furar, ele está a serviço da essência (eîdos) e tem dupla função: instruir e distinguir. Toda competência técnica depende de uma phýsis, e o artífice deve operar segundo os imperativos da natureza, não segundo sua fantasia.

5. “Onde não há texto, não há objeto de estudo e de pensamento.” ("Estética da Criação Verbal”, de Mikhail Bakhtin)

5.a. O texto não é um objeto, sendo por esta razão impossível eliminar ou neutralizar nele a segunda consciência, a consciência de quem toma conhecimento dele. (pg. 333)

5.b. O texto como reflexo subjetivo de um mundo objetivo. O texto é a expressão de uma consciência que reflete algo. Quando o texto se torna objeto de cognição, podemos falar do reflexo de uma reflexo. (pg. 340)

5.c. A língua materna – a composição de seu léxico e sua estruturação gramatical -, não a aprendemos nos dicionários e nas gramáticas, nós a adquirimos mediante enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva que se efetua com os indivíduos que nos rodeiam. Assimilamos as formas da língua somente nas formas assumidas pelo enunciado e juntamente com essas formas. (pg. 301)

5.d. Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, menos ainda, é óbvio, por palavras isoladas. (pg. 302)

5.e. (...), não lidamos com a palavra isolada (...). A significação da palavra se refere à realidade efetiva nas condições reais da comunicação verbal. (pg. 310)

6. “Não vemos o poder que reside na língua.” ("Aula", de Roland Barthes)

6.a. O poder é, simetricamente, perpétuo no tempo histórico: expulso, extenuado aqui, ele reaparece ali; nunca perece; façam uma revolução para destruí-lo, ele vai imediatamente reviver, re-germinar no novo estado de coisas. A razão dessa resistência e dessa ubiqüidade é que o poder é o parasita de um organismo trans-social, ligado à história inteira do homem, e não somente à sua história política, histórica. Esse objeto em que se inscreve o poder, desde toda eternidade humana, é: a linguagem – ou, para ser mais preciso, sua expressão obrigatória: a língua. (pg. 12)

6.b. A linguagem é uma legislação, a língua é seu código. Não vemos o poder que reside na língua, porque esquecemos que toda língua é uma classificação, e que toda classificação é opressiva. (pg. 12)

6.c. Sou obrigado a escolher sempre entre o masculino e o feminino, o neutro e o complexo me são proibidos. Falar, e com maior razão discorrer, não é comunicar, como se repete com demasiada freqüência, é sujeitar. (pg. 13)

6.d. Por outro lado, os signos de a língua é feita, os signos só existem na medida em que são reconhecidos, isto é, na medida em que se repetem; o signo é seguidor, gregário; em cada signo dorme este monstro: um estereótipo: nunca posso falar senão recolhendo aquilo que se arrasta na língua. (pg. 15)

7. No signo, A Genealogia da Moral, de Friederich Nietzsche.

7.a Creio poder interpretar o latim bônus por “o guerreiro”: levando bônus à sua forma antiga de duonus (compare-se bellum – duellum – duenlum, donde parece conservar-se duonus). Segundo isto, bônus seria o homem da disputa (duo), o guerreiro: eis o que constitui a bondade de um homem da Roma antiga. (pg. 6)

8. No signo, a luta de classe. ("Marxismo e filosofia da linguagem", de Mikhail Bakhtin)

8.a. Admitamos chamar a realidade que dá lugar à formação de um signo de tema do signo. Cada signo constituído possui seu tema. (pg. 45)

8.b. O tema ideológico possui sempre um índice de valor social. Por certo, todos estes índices sociais de valor dos temas ideológicos chegam igualmente à consciência individual que, como sabemos, é toda ideologia. Aí eles se tornam, de certa forma, índices individuais de valor, na medida em que a consciência individual os absorve como sendo seus, mas sua fonte não se encontra na consciência individual. O índice de valor é por sua natureza interindividual. (pg. 45)

8.c. Classe social e comunidade semiótica não se confundem. Pelo segundo termo entendemos a comunidade que utiliza um único e mesmo código ideológico de comunicação. Assim, classes sociais diferentes servem-se de uma só e mesma língua. Consequentemente, em todo signo ideológico confrontam-se índices de valor contraditórios. O signo se torna a arena onde se desenvolve a luta de classe. (pg. 46)

8.d. Na realidade, não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida.

9. O poder no signo. ("1984", de George Orwell)

9.a. – É lindo destruir palavras. Naturalmente, o maior desperdício é nos verbos e adjetivos, mas há centenas de substantivos que podem ser perfeitamente ser eliminados (...).