Conteúdos da Faculdade de Pedagogia e breves considerações

domingo, 11 de abril de 2010

Dos dia 12 ao dia 15


Nesta segunda, continuarei a marcar a leitura de Caderno de Orientação Curricular de Língua Portuguesa. Depois, ainda relacionado a esse texto, pedirei um trabalho de grupo sobre historicismo literário, tendo como base o livro História da literatura: o discurso fundador, organizado por Carmen Zink Bolognini.

Ainda reapresentarei o texto que os alunos escreveram sobre "fantasia". Reescreverão outra vez.

Além disso, deixo aqui uma forma de reorganizar o texto de um aluno de 7 anos.

Sou caçador bom!! (1ª série)

1. Em um primeiro momento, consideramos um só parágrafo.

"Um dia eu fui para a floresta com a minha família. Quando chegamos la, eu vi caçadores matando animais. Os guardas florestais prenderam os caçadores. Eu falei para minha mãe se eu poderia ajudar os guardas. Ela deixou e eu fui falar para a delegacia se eu poderia ajudar. O chefe deixou, e eu ja sou um guarda florestal. O chefe me chamou e disse: “você vai ter que prender o caçador Marcos da Silva ele quer matar animais. Eu fui la e prendi o tau Marcos, toda noite a gente resa a Ave Maria o Santo Anjo para eles não matarem os animais por que eu sei que eles tambem tem vida como a gente."

2. Priorizar a organização interna para reorganizar as frases-oracionais; mas, antes, enumerar a divisão interna.

1. Um dia eu fui para a floresta com a minha família. 2. Quando chegamos la eu vi caçadores matando animais. 3. Os guardas florestais prenderam os caçadores. Eu falei para minha mãe se eu poderia ajudar os guardas. Ela deixou e eu fui falar para a delegacia se eu poderia ajudar. 4. O chefe deixou, e eu ja sou um guarda florestal. O chefe me chamou e disse: “você vai ter que prender o caçador Marcos da Silva ele quer matar animais. 5. Eu fui la e prendi o tau Marcos, toda noite a gente resa a Ave Maria o Santo Anjo para eles não matarem os animais por que eu sei que eles tambem tem vida como a gente.

4. Reorganizar as partes enumeradas.

(1) Um dia eu fui para a floresta com a minha família.

Reorganizado
- Um dia, eu fui para a floresta com a minha família.

(2) Quando chegamos lá, eu vi caçadores matando animais.

Reorganizado - Quando chegamos, vi caçadores matando animais.

(3) Os guardas florestais prenderam os caçadores. Eu falei para minha mãe se eu poderia ajudar os guardas. Ela deixou e eu fui falar para a delegacia se eu poderia ajudar.

Reorganizado - Os guardas florestais prenderam esses malvados. Falei para minha mãe se eu poderia ajudar os defensores dos animais. Ela deixou. Depois, falei para o delegado se eu poderia contribuir.

(4) O chefe deixou, e eu ja sou um guarda florestal. O chefe me chamou e disse: "você vai ter que prender o caçador Marcos da Silva ele quer matar animais.

Reorganizado
- Ele permitiu e hoje eu já sou um guarda florestal. Ele me disse: “Você terá de prender o caçador Marcos da Silva, porque ele quer matar os animais.


(5) Eu fui la e prendi o tau Marcos, toda noite a gente resa a Ave Maria o Santo Anjo para eles não matarem os animais por que eu sei que eles tambem tem vida como a gente.

Reorganizado - Prendi o tal Marcos. Toda noite, nós rezamos [ave-maria] para eles não matarem os animais, porque eu sei que eles também têm vida como os seres humanos.

(5) Com as partes reorganizadas, formar outra vez um único parágrafo todo organizado.

Reorganizado - Um dia eu fui para a floresta com a minha família. Quando chegamos [ao local ], vi caçadores matando animais. Os guardas florestais prenderam [esses malvados]. [Eu] Perguntei para minha mãe se eu poderia ajudar [os defensores dos animais] guardas e ela deixou. [Como ela deixou ou depois], falei para [o delegado] se eu [poderia contribuir]. [Ele] permitiu e hoje já sou um guarda florestal. Ele me disse: “Você terá de prender o caçador Marcos da Silva, porque [ele] quer matar animais.” Prendi o tal Marcos. Toda noite, nós rezamos [ave-maria] para não matarem [os bichos], porque eu sei que eles também têm vida como os seres humanos.

Breves considerações

Não se trata de uma reconstrução definitiva; mas, recontruída com os alunos em sala, eles percebem, por exemplo, que termos repetidos podem ser substituídos por outros.

Depois de haver aula sobre essa reconstrução, o professor precisa criar exercícios gramaticais relacionados ao texto. Evidente que o professor não precisa ficar preso somente a essa relação texto-gramática, podendo criar ativididades que possam ampliar, por exemplo, o vocabulário do aluno.

Não só. Leitura é paralela à refacção textual. Um bom autor, não um livro qualquer, e o aluno deve ler no ensino fundamental oito livros na escola pública. A seleção desses livros precisa ser criteriosíssima.

domingo, 4 de abril de 2010

A linguagem do enunciado


Para segunda-feira, dia 5 de abril, os grupos apresentarão sua compreensão de uma parte do livro Estética da criação verbal.

1) Da Estética da criação verbal, de Mikhail Bakhtin, trechos de O enunciado, a unidade da comunicação verbal. Trechos que me interessam para a aula.

1. Pg. 289. Crítica a Humboldt por este afirmar que, “abstraindo-se a necessidade de comunicação do homem, a língua lhe é indispensável para pensar, mesmo que tivesse de estar sempre sozinho”. A escola de Vossler passa para o primeiro plano a dita função expressiva.

1.1. A essência da língua, de uma forma ou de outra, resume-se à criatividade espiritual do indivíduo. A linguagem é considerada do ponto de vista do locutor como se este estivesse sozinho, sem uma forçosa relação com os outros parceiros da comunicação verbal.

1.2. E, quando o papel do outro é levado em consideração, é como um destinatário passivo que se limita a compreender o locutor. O outro é menosprezado. Na página 292, a gramática concebe um estudo que menospreza o outro.

2. Pg. 293. Unidade real da comunicação verbal: o enunciado. A fala só existe, na realidade, na forma concreta dos enunciados de um indivíduo: do sujeito de um discurso-fala. O discurso se molda sempre à forma do enunciado que pertence a um sujeito falante e não pode existir fora dessa forma.

2.1. As fronteiras do enunciado concreto, compreendido como uma unidade da comunicação verbal, são determinadas pela alternância dos sujeitos falantes, ou seja, pela alternância dos locutores.

2.2. Pg. 297. A oração que se torna enunciado completo adquire novas qualidades e particularidades que não pertencem à oração, mas não ao enunciado, que não expressam a natureza da oração mas do enunciado e que, achando-se associadas à oração, completam-na até torná-la um enunciado completo.

2.3. Pg. 297. A oração, como unidade da língua, é desprovida dessas propriedades; não é delimitada em suas duas extremidades pela alternância dos sujeitos falantes, não está em contato imediato com a realidade (com a situação transverbal) e tampouco está em relação imediata com os enunciados do outro, não possui uma significação plena nem uma capacidade de suscitar a atitude responsiva do outro locutor, ou seja, de determinar uma resposta.

2.4. As pessoas não trocam orações, assim como não trocam palavras (numa acepção rigorosamente linguística), ou combinações de palavras, trocam enunciados constituídos com a ajuda de unidade da língua (...).

2.5. Pg. 298. A obra, assim como a réplica do diálogo, visa a resposta do outro (dos outros), uma compreensão responsiva ativa, e para tanto adota todas espécies de formas: busca exercer uma influência didática sobre o leitor, convencê-lo, suscitar sua apreciação crítica (...), etc.

2.6. O primeiro e mais importante dos critérios de acabamento do enunciado é a possibilidade de responder.

2.7. Pg. 300. A língua materna – a composição de seu léxico e sua estrutura gramatical – não a aprendemos nos dicionários e nas gramáticas, nós a adquirimos mediante enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva que se efetua com os indivíduos que nos rodeiam. Assimilamos as formas da língua somente nas formas assumidas pelo enunciado e juntamente com essas formas.

2.8. Pg. 301. Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, menos ainda, é óbvio, por palavras isoladas).

2.9. Pg. 313. Mas a utilização da palavra na comunicação verbal ativa é sempre marcada pela individualidade e pelo contexto. Pode-se colocar que a palavra existe para o locutor sob três aspectos: 1) como palavra neutra da língua da língua e que não pertence a ninguém; 2) como palavra do outro pertencente aos outros e que preenche o eco dos enunciados alheios; 3) e, finalmente, como palavra minha, pois, na medida em que uso essa palavra numa determinada situação, com uma intenção discursiva, ela já se impregnou de minha expressividade.

3) Pg. 320. O enunciado, desde o início, elabora-se em função da eventual reação-resposta, a qual é o objetivo preciso de sua elaboração. Os outros, para os quais meu pensamento se torna, pela primeira vez, um pensamento real (e, com isso, real para mim), não são ouvinte passivos, mas participantes ativos da comunicação real. (...). Todo enunciado se elabora como que para ir ao encontro dessa resposta.