Conteúdos da Faculdade de Pedagogia e breves considerações

domingo, 4 de abril de 2010

A linguagem do enunciado


Para segunda-feira, dia 5 de abril, os grupos apresentarão sua compreensão de uma parte do livro Estética da criação verbal.

1) Da Estética da criação verbal, de Mikhail Bakhtin, trechos de O enunciado, a unidade da comunicação verbal. Trechos que me interessam para a aula.

1. Pg. 289. Crítica a Humboldt por este afirmar que, “abstraindo-se a necessidade de comunicação do homem, a língua lhe é indispensável para pensar, mesmo que tivesse de estar sempre sozinho”. A escola de Vossler passa para o primeiro plano a dita função expressiva.

1.1. A essência da língua, de uma forma ou de outra, resume-se à criatividade espiritual do indivíduo. A linguagem é considerada do ponto de vista do locutor como se este estivesse sozinho, sem uma forçosa relação com os outros parceiros da comunicação verbal.

1.2. E, quando o papel do outro é levado em consideração, é como um destinatário passivo que se limita a compreender o locutor. O outro é menosprezado. Na página 292, a gramática concebe um estudo que menospreza o outro.

2. Pg. 293. Unidade real da comunicação verbal: o enunciado. A fala só existe, na realidade, na forma concreta dos enunciados de um indivíduo: do sujeito de um discurso-fala. O discurso se molda sempre à forma do enunciado que pertence a um sujeito falante e não pode existir fora dessa forma.

2.1. As fronteiras do enunciado concreto, compreendido como uma unidade da comunicação verbal, são determinadas pela alternância dos sujeitos falantes, ou seja, pela alternância dos locutores.

2.2. Pg. 297. A oração que se torna enunciado completo adquire novas qualidades e particularidades que não pertencem à oração, mas não ao enunciado, que não expressam a natureza da oração mas do enunciado e que, achando-se associadas à oração, completam-na até torná-la um enunciado completo.

2.3. Pg. 297. A oração, como unidade da língua, é desprovida dessas propriedades; não é delimitada em suas duas extremidades pela alternância dos sujeitos falantes, não está em contato imediato com a realidade (com a situação transverbal) e tampouco está em relação imediata com os enunciados do outro, não possui uma significação plena nem uma capacidade de suscitar a atitude responsiva do outro locutor, ou seja, de determinar uma resposta.

2.4. As pessoas não trocam orações, assim como não trocam palavras (numa acepção rigorosamente linguística), ou combinações de palavras, trocam enunciados constituídos com a ajuda de unidade da língua (...).

2.5. Pg. 298. A obra, assim como a réplica do diálogo, visa a resposta do outro (dos outros), uma compreensão responsiva ativa, e para tanto adota todas espécies de formas: busca exercer uma influência didática sobre o leitor, convencê-lo, suscitar sua apreciação crítica (...), etc.

2.6. O primeiro e mais importante dos critérios de acabamento do enunciado é a possibilidade de responder.

2.7. Pg. 300. A língua materna – a composição de seu léxico e sua estrutura gramatical – não a aprendemos nos dicionários e nas gramáticas, nós a adquirimos mediante enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva que se efetua com os indivíduos que nos rodeiam. Assimilamos as formas da língua somente nas formas assumidas pelo enunciado e juntamente com essas formas.

2.8. Pg. 301. Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, menos ainda, é óbvio, por palavras isoladas).

2.9. Pg. 313. Mas a utilização da palavra na comunicação verbal ativa é sempre marcada pela individualidade e pelo contexto. Pode-se colocar que a palavra existe para o locutor sob três aspectos: 1) como palavra neutra da língua da língua e que não pertence a ninguém; 2) como palavra do outro pertencente aos outros e que preenche o eco dos enunciados alheios; 3) e, finalmente, como palavra minha, pois, na medida em que uso essa palavra numa determinada situação, com uma intenção discursiva, ela já se impregnou de minha expressividade.

3) Pg. 320. O enunciado, desde o início, elabora-se em função da eventual reação-resposta, a qual é o objetivo preciso de sua elaboração. Os outros, para os quais meu pensamento se torna, pela primeira vez, um pensamento real (e, com isso, real para mim), não são ouvinte passivos, mas participantes ativos da comunicação real. (...). Todo enunciado se elabora como que para ir ao encontro dessa resposta.

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